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Carta para um velho amigo


Antes que fiquem bravos, eu peço desculpas pela ausência prolongada. Tive uma semana pouco dedicada, e isto é culpa única e exclusivamente minha. Estava sem idéias e sem inspiração para escrever (em compensação, tirei várias fotos, se estiverem interessados acessem o www.nih-chan.devianart.com ). Voltei com um pequeno conto, e aviso que já tenho os demais posts para essa semana planejados, portanto, não se preocupem, não haverá uma espera desmedida como houve desta vez.

Agora, antes que vocês possam avançar para este texto escrito em um bloquinho sem linhas enquanto ajudava a minha mãe a fazer supermercado (podem imaginar o quanto ela adora a minha companhia para o mercado. Ela fica sozinha perambulando e eu só sirvo para riscar as coisas da lista, já que sempre que vou ajudá-la nas compras me dá i

nspiração), preciso conferir uma coisa. Algumas pessoas que liam o antigo blog estão reclamando (nos comentários, no msn, no twitter) que eu parei de postar a história do outro blog (Desventuras de Tardes Tediosas). Estou planejando voltar a postar, mas antes gostaria de oferecer uma forma mais organizada para os novos leitores se atualizarem na história, se alguém tiver alguma sugestão de como eu posso fazer isso, ficaria extremamente agradecida.

Terminado isto deixo vocês com uma carta de uma mulher para um antigo amigo. (A foto do conto é da minha autoria. O que acharam?)


Prezado amigo Balanço,


Sei que faz muito tempo que não nos vemos, e por isso lhe dou toda razão caso guarde apenas amargura pela minha pessoa. Não faz mal, mas quero que saiba que, da minha parte, existem apenas bons sentimentos entre nós.

Imagino o quão surpreso esta por receber esta carta tão de repente, mas aviso que o “de repente” se aplica apenas à você que vive ai sozinho e isolado dos demais, fechado em sua praça. Antes de mais nada, acho importante relatar um pouco sobre mim, afinal faz anos que não nos falamos, e considero você um bom amigo.

Ainda tenho praticamente a mesma altura que da última vez que nos encontramos, cresci apenas tries centímetros, mesmo que tenham se passado dez anos desde a última vez que meus tênis ficaram cheios com a areia fina sobre a qual você vive. Meu cabelo esta curto, um pouco acima dos ombros; sei que gostava dos cabelos compridos (presos em rabos de cavalo altos, ou soltos fazendo bonitas sombras quando eu balançava alto em dias de sol), mas minhas novas responsabilidades exigiram esse tipo de posicionamento prático.

Lembra-se daquele rapaz pelo qual eu estava chorando naquele último final de tarde juntos? Bem, não o vejo há vários anos; no entanto, o jovem que se sentou em seu vizinho e me fez companhia até as lágrimas secarem (lembra quem é? Ele sempre me empurrava bem alto, até eu parar de chorar e começar a rir de nervosismo) se tornou meu companheiro de toda a vida. Não concordo com o gosto dele para toalhas, mas isso é remediável.

E a faculdade, você deve estar se questionando. Bem, foi incrível, tudo o que me diziam que seria, e mais. Claro, dormi pouquíssimo (entre trabalhos, aulas e baladas faltou tempo para algo tão rotineiro como descansar), mas não veijo mal nisso. Devo ter rido mais do que em toda a minha vida junta. Mas, não, não fiz a faculdade que meu pai havia escolhido. Desisti da idéia de um curso seguro e me formei em gastronomia. Você pode imaginar a expressão dos meus pais quando lhes contei isso, e admito que fiquei preocupada por um tempo. Mas tudo bem. Hoje sou dona e chef de um bistrô no bairro dos artistas e, mesmo que sempre tenha uma banda (normalmente uma alternativa) tocando lá, e que as paredes estejam cheias de quadros, nunca gastei um centavo para isto (os artistas procuram restaurantes como o meu, é bom para eles e para mim). Estou realmente feliz.

Suponho que esta conversa deve estar soando estranhíssima aos seus ouvidos, e não é motivo de surpresa para mim, afinal de contas, a última vez que nos vimos eu sequer era uma mulher, minha vida era curta e rasa, assim como eu. Mas agora que estou em pé diante de ti, deixo bem claro que eu mudei. A vida me moldou, e acho que moldou bem; estou profunda e meu interior não “da pé” para uma criança pequena e vários adultos. Esta criaturinha em pé ao meu lado é o fruto mais doce e precioso que a vida e eu tivemos juntas, seu nome é Manuela, mas todos a chamam de Manu, sinta-se à vontade para fazê-lo.

Estou morando com ela e com o rapaz (que hoje é um homem) do qual já lhe falei há três quarteirões daqui, naquela casa térrea sobre a qual lhe falava (com as portas -até mesmo as da garagem- em arco, árvores tortas se ajeitando à entrada e um caminho de pedras até a soleira). Sendo assim, eu e Manu iremos passar a frequentar o parque com certa regularidade, agora que minha pequenina tem idade o suficiente para esse tipo de passeio.

Seja paciente com ela, assim como foi comigo, que tenho certeza que serão bons amigos, como nós.


Beijos da Menina que Cresceu.






Não se esqueçam de deixar seus comentários (críticas, sugestões, e o que mais quiserem)



Nínive Leikis

Nobel de Literatura




“Por um instante a morte soltou-se a si mesma, expandindo-se até às paredes, encheu o quarto todo e alongou-se como um fluido até à sala contígua, aí uma parte de si deteve-se a olhar o caderno que estava aberto sobre uma cadeira, era a suite número seis opus mil e doze em ré maior de johann sebastian bach composta em cöthen e não precisou de ter aprendido música para saber que ela havia sido escrita, como a nona sinfonia de beethoven, na tonalidade da alegria, da unidade entre os homens, da amizade e do amor. Então aconteceu algo nunca visto, algo não imaginável, a morte deixou-se cair de joelhos, era toda ela, agora, um corpo refeito, e por isso é que tinha joelhos, e pernas, e pés, e braços, e mãos, e uma cara que entre as mãos escondia, e uns ombros que tremiam não se sabe porquê, chorar não será, não se pode pedir tanto a quem sempre deixa um rasto de lágrimas por onde passa, mas nenhuma delas que seja sua. Assim como estava, nem visível nem invisível, em esqueleto nem mulher, levantou-se do chão como um sopro e entrou no quarto."

- Intermitências da Morte de José Saramago.




Eu tinha planos de postar algo completamente diferente do que estou postando. Pela manhã pensei em um conto que estava arquivado, e imaginei qual era o motivo de aindar não haver postado coisa alguma. Quando cheguei na garagem do emu prédio, determinada à postar o conto antes mesmo de almoçar, recebi uma mensagem no celular anunciando uma notícia devastadora. José Saramago faleceu hoje, neste fatídico dia de 18 de junho de 2010. Sei o quão falso pode soar eu dizer que meu coração deu um salto infeliz e se jogou de um abismo, levando consigo meu chão. Por alguns segundos fiquei parada, o joelho doendo horrívelmente e a mala escorregando pelo ombro inclinado para baixo, encarando a mensagem. Me pareceu uma brincadeira de mal gosto, vinda de alguém que não fazia esse tipo de coisas. “Saramago morreu” anunciei para minha mãe, que eu esperava desmentir o fato. No entanto, ela torceu o nariz, tão desgostosa quanto eu, abaixando a cabeça. “É, eu li na internet hoje de manhã”.

Precisei repetir algumas vezes para mim, sentar na frente do computador ligado e conectado à rede e buscar alguma notícia que me comprovasse ou desmentisse aquilo. Óbviamente, como estou fazendo este post, cheguei à conclusão de que realmente o único Nobel de literatura na língua portuguesa havia falecido. Ainda assim, precisei do dia para decidir se realmente faria alguma notificação do fato no blog.

É algo extremamente triste a partida de uma figura tão importante para o cenário literário internacional, e é claro que me interesso por fazer uma homenagem a ele. Mas a triste verdade é que não conheci Saramago. Mesmo tendo lido seus livros, nunca me sentei para tomar um café com ele e falar sobre o vai e vêm das ondas, o vai e vêm das injustiças, o vai e vêm da vida. Tudo que sei sobre ele sei porque li nas páginas brancas e desprovidas de muita da pontuação que somos obrigados a usar, sequer sabia que esse gênio ganhara seu primeiro livro de um amigo quando ele já tinha seus 18 anos até hoje, quando buscava notícias sobre o falecimento do autor. Não conheci nada sobre Saramago, conheci apenas tudo sobre ele. Conheci o que ele pensava, o que ele via, e como ele contava isso ao mundo. Fora isso, fora sua arte e sua consciência, nunca me interessei por algo mais. E portanto minha homenagem se reduz a um simples conselho: leia José Saramago.

Leia os livros que ele deixou para trás, e que não foram poucos. Leia-os com carinho, concentração e entendimento. Desprenda-se de preconceitos, ignore o que você aprendeu desde a infância, e aceite, nem que somente durante o tempo em que tiver o livro abrto diante de si, o que ele tem a dizer. Se conseguir fazer isso, estará olhando nos olhos dele e, mesmo que o homem não esteja mais entre nós, poderá discutir se quiser, pois ele deixou suas respostas impressas à tinta.



“Retrato do poeta quando jovem”


Há na memória um rio onde navegam

Os barcos da infância, em arcadas

De ramos inquietos que despregam

Sobre as águas as folhas recurvadas.


Há um bater de remos compassado

No silêncio da lisa madrugada,

Ondas brancas se afastam para o lado

Com o rumor da seda amarrotada.


Há um nascer do sol no sítio exato,

À hora que mais conta duma vida,

Um acordar dos olhos e do tacto,

Um ansiar de sede inextinguida.


Há um retrato de água e de quebranto

Que do fundo rompeu desta memória,

E tudo quanto é rio abre no canto

Que conta do retrato a velha história.


de José Saramago.



Meus mais sinceros sentimentos à família de Saramago e uma pitadinha de raiva por ele falecer, afinal, agora não haverá mais coisas novas dele para ler.



Nínive Leikis






José Saramago (1922-2010)


Depois do dia dos namorados




Eu deveria ter aparecido por aqui ontem, afinal de contas, era Dia dos Namorados, aquele dia especial para comprar caixas de chocolate, entradas de cinema, ler posts fofos em blogs sobre casaisinhos, esse tipo de coisas. No entanto, devemos encarar os fatos: eu não sou uma pessoa de datas. E quando eu digo isso, eu quero dizer que não lembraria o aniversário dos meus pais se não houvesse algum lembrete (como o fato do aniversário do meu pai ser no mesmo mês que o meu, e o da minha mãe o mesmo dia em outro mês... -apesar de eu às vezes confundir com junho ou julho.). Sou aquele tipo de pessoa que soltou fogos com a idéia de o orkut nos avisar quando é o aniversário de alguém.

Logo, nada mais justo do que um post pós-dia dos namorados sobre uma pequena desilusão.



Carla e um e-mail



Existem dias especiais que são feriados, e outros que não são. Quando estamos pensando no segundo caso, torcemos desesperadamente para que esse tal dia caia em um final de semana. De preferência, sábado. Desta maneira podemos dormir até a hora que quisermos, sem nos preocupar se vamos ou não aproveitar o dia, pois também podemos dormir na hora que preferirmos. Tais encantadores pensamentos estavam nublados na mente de Carla quando ela mudou de posição embaixo das cobertas, despertando sem querer. Durante alguns segundos ela continuou ali, quieta, encolhida no quentinho da noite que na verdade já havia acabado há um bom tempo.

O celular apitou, avisando que havia uma mensagem não lida, e ela gemeu solitáriamente ao pensar que teria que abrir os olhos, levantar-se e sair do quentinho(!) para ir pegar o maldito celular que havia descarregado no outro dia. Resistiu ao instinto de saber quem estaria lhe mandando mensagens em um sábado de manhã, e permaneceu na cama, fingindo para si própria que ainda estava dormindo. Quando o celular apitou uma segunda vez, o ar quente escapou rápido de seus pulmões, atravessando seus lábios em uma bufada impaciente.

Abriu os olhos, encarando o escuro não tão profundo em que se encontrava. A luz do sol passava com dificuldade pelas frestas das persianas, lavando o quarto com uma penumbra simpática que a convidava a tentar continuar ali, os pés vestidos em meias enrolados na borda da coberta de lã. Fechou os olhos uma vez mais, um sorriso cálido nos lábios rosa pastel, tentando retornar ao mundo de inconsciência em que mergulhamos durante o sono, mas, uma vez mais, o celular apitou, dando-lhe um tapa na cara quando estava para saltar do abismo.

Respirando profundamente, ela empurrou as cobertas com carinho para longe, e rastejou para fora da cama, caminhando com passos pouco apressados até o celular. Agachou-se, desconectando este no carregador, e caminhou de volta para a cama, enquanto abria-o para ler a mensagem. Quando se sentou na cama, e estreitou os olhos para conseguir ler o que as letras pretas no fundo branco diziam uma fúria desigual surgiu nos olhos castanhos emoldurados por olheiras.

-Propaganda... - ela murmurou em um sibilo venenoso - Quem manda uma maldita propaganda na manhã do dia dos namorados?

Ela fechou o celular, irritada, vendo a hora exposta no visor externo. 13h27. Esta bem, não era manhã, mas ainda assim, era sábado de dia dos namorados. Quem acorda em um sábado antes das 14 horas?

Carla até pensou em voltar a se deitar, mas sabia que não adiantaria nada. Já havia acordado, e nada, naquele instante, seria capaz de fazê-la se deitar e realmente dormir novamente. Jogou os cabelos ainda úmidos do banho que havia tomado antes de dormir para trás, tomando coragem para se levantar, colocar um casaco por cima da blusa de mangas compridas que havia usado para dormir, calçar os pés naqueles chinelos de avós para andar em casa durante os dias frios.

Quando saiu do quarto notou que havia sido a última pessoa para acordar, seu pai e seu irmão estavam na sala, assistindo alguma coisa na televisão. Sua mãe estava terminando de colocar a mesa, mas não para o almoço, e sim para o café da manhã. Ela, assim como a filha, estava de pijama.

-Custa colocar um chinelo? - ela exclamou quando o irmão de Carla entrou na cozinha, os pés só em meias e uma regata no peito. -Bom dia, querida.

-Tá mais para “boa tarde”, não acha não? - Rodrigo tinha um sorriso maldoso no rosto, o qual Carla ignorou deliberadamente.

-Ignore ele, Carla, seu irmão acordou há dez minutos.

Rodrigo entortou a boca, olhando irritado para a mãe, que retribuiu com um sorrisinho enervante. Quando o pai se sentou do outro lado da mesa que Carla, sua mãe havia acabado de colocar sua caneca com leite e achocolatado no microondas. Durante o desjejum eles falaram sobre coisas inúteis, e às vezes havia o mais puro silêncio, cortado por bocejos remanescentes. Enquanto a vizinha estava preparando um frango assado com farofa eles estava terminando de comer um pedaço de bolo industrializados, bisnaguinhas e torrada.

A tarde passou de uma maneira monótona, mas confortável. Rodrigo e o pai ficaram na sala assistindo futebol, corrida, cricket, o que quer que fosse. Carla e a mãe se sentaram no quarto e ficaram ali até à meia noite, assistindo a última temporada de um seriado que ambas adoravam. Houveram pausas para o almoço fora de hora, e alguma outra refeição, e, claro, para que Carla fizesse download do próximo episódio. Nesse pequeno espaço de tempo ela corria até a caixa de entrada de seu e-mail, encontrando-a sempre normal, sem nada novo e, a cada vez que verificava o fato, sua boca se entortava um pouco.

Não havia falado com ninguém sobre o mail que estava esperando, e preferiu manter como estava. Se distraia com a série, chorando com ela, rindo com ela, abraçando a mãe enquanto seu pai e seu irmão vibravam com o que quer que fosse na sala.

O último episódio foi doído, sofredor e devagar. Houve perdas, conquistas, mortes e uma dúvida sem resposta. E elas ainda precisariam esperar meio ano para que houvesse a continuação da trama. Quando terminaram eram três horas da manhã, e elas riram quando perceberam o fato. Se despediram, desejando boa noite e bons sonhos. Os dois homens da casa, ou melhor, o garoto e o hoem da casa jea estavam dormindo, e agora as duas mulheres, a senhora e a senhorita, estavam seguindo os mesmos passos.

No silêncio da casa durante a madrugada, ela o fez mais uma vez.

Rapidamente, como quem tira um curativo, ela abriu a caixa de e-mail. A caixa de entrada não apresentava mensagem algum nova. E aquilo fez com que seus olhos se estreitassem, um pouco furiosos.

Com o mouse ela clicou em “Nova mensagem”, digitou um e-mail que sabia de memória, e no assunto colocou “Duas semanas depois”

“Você sabe que perdeu a oportunidade perfeita, não sabe? E você também sabe que era você quem devia estar enviando este mail, não eu.”

Sem pensar duas vezes, ela enviou.

Apagou a luz do teto e se enfiou embaixo das três camadas de tecido grosso, abraçando o travesseiro ortopédico e macio que abraçava sua cabeça todas as noites. Em poucos minutos sua mente saltou do consciente para aquele reino impalpável e esfumaçado de sonhos.






Espero que tenham gostado de Carla, uma jovem adolescente que adora seriados, histórias em quadrinho, whisky e doce de leite. Adoraria saber o que acham da atitude dela. Não sei se a história vai ter continuação, mas pelo menos houve um começo. Comentem antes de sair, e até a próxima!



Nínive Leikis



Minha intenção era ter aparecido por aqui antes do início do feriado, no entanto às vezes as coisas fogem do nosso controle (seja de maneira positiva ou negativa), portanto, me atrasei. Mas estou aqui, não com uma crítica de filme ou livro ou história em quadrinho. E também não é exatamente um conto, mas tem um certo fundo literário, mas eu não sei que estilo de texto é esse. Como ao final desta leitura os pedidos de comentário pareceriam excedentes, peço de forma antecipada que comentem antes de sair.


De acordo com o dicionário Aurélio:

Religião

s.f. Culto rendido à divindade. / Fé; convicções religiosas, crença: a religião transforma o indivíduo. / Doutrina religiosa: religião cristã. / Tendência para crer em um ente supremo. / Acatamento às coisas santas. / Fig. Coisa a que se vota respeito: o trabalho era para ele uma religião.


Para mim, religião é fé.


De acordo com o dicionário Aurélio:

s.f. Fidelidade em honrar seus compromissos, lealdade, garantia: a fé dos tratados. / Confiança em alguém ou em alguma coisa: testemunha digna de fé; ter fé no futuro. / Crença nos dogmas de uma religião; esta mesma religião: ter fé; a propagação da fé. / Crença fervorosa: fé patriótica. / Afirmação, comprovação: em fé do que lhe digo... / Testemunho autêntico que certos funcionários dão por escrito: a fé do tabelião. // Estar de boa fé, estar convencido da verdade do que se diz; estar de má fé, saber muito bem que se diz uma coisa falsa; ter intenção dolosa. //


Para mim, fé é acreditar. Não importa no que.

Você pode acreditar em um Ser maior, e chamá-lo pelo nome que quiser. Pode ser Deus, Alah, Jeová, Olorum, Zeus, Odin, Gaia.

Pode acreditar que não existem intermidários entre você e Ele (ou Ela). Pode crer que existão vários ao lado do Criador, Seus filhos ou Seus escolhidos.

Pode rezar rezas prontas. Pode se ajoelhar voltado para um local específico em horário pré-determinados. Pode acender uma vela, ou fazer diversos tipos de comida, quando precisa pedir auxílio ou agradecer algo que Ele (ou Ela, ou Eles ou Elas) lhe deram.

Pode se guiar por palavras escritas em um livro. Pode interpretá-las sozinho, ou acreditar em um líder que o faça por você. Pode acreditar em conhecimentos passados de pai para filho.

Pode também acreditar em nada disto. Pode crer na ciência, e apenas nela. (E, acredite, isto também é fé.)

Não importa qual destas fés, qual desta religiões, você segue, e nem o que as pessoas pensam a respeito dela. Não importa os preconceitos voltados para ela, ou as calúnias inflingidas pela ignorância. Pelo medo. Não será a sua fé que determinará quem você é, e tampouco como você é. Não é a religião que cria pessoas boas ou más. Justas ou injustas. Morais ou imorais. Verdadeiras ou mentirosas.

São as pessoas. Você pode seguir uma fé convencional e ir à missa todo domingo e ser um canalha de segunda à domingo até as seis da tarde e depois das oito. Você pode matar uma galinha, que pelo menos foi criada em cativeiro e teve uma vida normal, oferecê-la para uma entidade de nome estranho e ser um bom pai de família, participativo, caloroso, com problemas para pagar algumas contas e ainda assim com força para sorrir aos filhos pequenos que não precisam saber destes problemas. Você pode crer naquilo que fizer seu coração se aquecer e ser a pessoas que você consegue ser.

Portanto, louve quem quiser. As coisas serão as mesmas entre nós.




Nínive Leikis.

Desta vez é cinema


Da última vez que estive aqui lhes apresentei a minha opinião à respeito de um livro nacional extraodirnário, Filhos de Galagah de Leandro Reis @Radrak. Hoje eu trago até vocês uma indicação cinematográfica (que não é nacional, mas pelo menos não é lá muito convencional).




Senhores do Crime (Eastern Promises)


Sinopse:


Anna (Naomi Watts) é uma parteira que trabalha em um hospital de Londres. Um dia ela testemunha a morte de uma jovem, durante um parto realizado em pleno Natal. Ela decide dar a notícia de seu falecimento pessoalmente, o que a faz pesquisar sobre sua identidade e família. A busca acaba colocando-a em contato com o lucrativo tráfico do sexo, comandado por uma organização criminosa da Rússia. Logo Anna conhece Nikolai (Viggo Mortensen), um homem violento e misterioso que é mais do que aparenta


E o que eu penso sobre tudo isso...


Normalmente quando queremos ver um bom filme sobre a máfia, com diálogos profundos, fotografia incomparável, personagens profundas e situações realistas vamos atrás de “O Poderoso Chefão”, de Francis Coppola. Eu já fiz isso várias e várias vezes, e admito que, depois que vi os filmes pela quinta vez, e pensei friamente, percebi como o filme inspirado no livro de Mario Puzo pode ter seus toques de realidade, mas também há uma visão bem romântica de algo nada simpático, que é a super organização criminosa chamada de máfia.

Sem que eu procurasse tomei conhecimento de um filme com o ator Viggo Mortensen cuja base da trama era a máfia russa. Idéia boa, trailer interessante e um ator gato. Corri atrás de assistir o filme e o que encontrei foi algo que tirou as palavras da minha boca e da ponta dos meus dedos durante um certo intervalo de tempo. Admito que quando vi um homem tão lindo no elenco imaginei que explorariam isso ao máximo, como sempre fazem, ao ponto de desfavorecer o roteiro, mas o que aconteceu foi exatamente o contrário: ignoraram categóricamente o fato do homem ser o Aragorn de Senhor dos Anéis e criaram uma obra prima.

A princípio temos a nítida e clara sensação de que a história seguiria Anna Ivanovna (Naomi Watts). Ela é uma obstetra londrina descendente de russos que, no começo do filme, trás ao mundo uma menininha que ela batizara de Cristina, mas vê a mãe da criança, Tatiana, uma jovem de não mais que 14 anos, perecer na mesa de cirurgia. Com o diário da falecida em mãos, Anna pretende encontrar a família dela e garantir um futuro para Cristina. Só existe um pequeno problema: o diário esta em russo.

Inicialmente Anna pede ao tio Stepan que traduza o diário, mas o homem, revolto, velho e um pouco ignorante, se recusa. Ivanovna, vendo-se sem outro opção, procura quem possa ajudá-la e termina conhecendo o dono de um restaurante russo, que é também o chefe do clã davory v zakone, e o seu motorista, Nikolai (Viggo Mortensen).

A partir deste ponto precisa-se ter uma rapidez de pensamento para transferir seu foco para o russo, desviando da jovem carismática e benevolente. A verdade é que a busca pelo destino da jovem Cristina é um subtrama. O verdadeiro centro da história são os acontecimentos, e os objetivos duvidosos, da personagem de Viggo Mortensen. Se não conseguir mudar o foco, se perderá na trama, e será bem difícil alcançar a beleza de significados embutidos no filme.

Longe de ser um blockbuster, podemos chamá-lo até mesmo de cult, e, como todo filme dessa categoria, não é algo que se indica para todos. Indico-o apenas para àqueles dispostos a ver filmes não apenas para se distrair, entreter-se; esse é o típico filme do cinema pensante, e eu o indico para aqueles que estão dispostos à ver um filme com essa intenção.

Sensacional e até mesmo belo, Senhores do Crime é um novo clássico sobre máfia.




Espero que tenham gostado da crítica, mas mais ainda espero vejam o filme, não só porque vale muito à pena, mas porque também é ótimo tirar as próprias conclusões. Assistam e me contem o que acharam.


Lenços ao vento no porto, e até a próxima



Nínive Leikis.


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