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Depois do dia dos namorados




Eu deveria ter aparecido por aqui ontem, afinal de contas, era Dia dos Namorados, aquele dia especial para comprar caixas de chocolate, entradas de cinema, ler posts fofos em blogs sobre casaisinhos, esse tipo de coisas. No entanto, devemos encarar os fatos: eu não sou uma pessoa de datas. E quando eu digo isso, eu quero dizer que não lembraria o aniversário dos meus pais se não houvesse algum lembrete (como o fato do aniversário do meu pai ser no mesmo mês que o meu, e o da minha mãe o mesmo dia em outro mês... -apesar de eu às vezes confundir com junho ou julho.). Sou aquele tipo de pessoa que soltou fogos com a idéia de o orkut nos avisar quando é o aniversário de alguém.

Logo, nada mais justo do que um post pós-dia dos namorados sobre uma pequena desilusão.



Carla e um e-mail



Existem dias especiais que são feriados, e outros que não são. Quando estamos pensando no segundo caso, torcemos desesperadamente para que esse tal dia caia em um final de semana. De preferência, sábado. Desta maneira podemos dormir até a hora que quisermos, sem nos preocupar se vamos ou não aproveitar o dia, pois também podemos dormir na hora que preferirmos. Tais encantadores pensamentos estavam nublados na mente de Carla quando ela mudou de posição embaixo das cobertas, despertando sem querer. Durante alguns segundos ela continuou ali, quieta, encolhida no quentinho da noite que na verdade já havia acabado há um bom tempo.

O celular apitou, avisando que havia uma mensagem não lida, e ela gemeu solitáriamente ao pensar que teria que abrir os olhos, levantar-se e sair do quentinho(!) para ir pegar o maldito celular que havia descarregado no outro dia. Resistiu ao instinto de saber quem estaria lhe mandando mensagens em um sábado de manhã, e permaneceu na cama, fingindo para si própria que ainda estava dormindo. Quando o celular apitou uma segunda vez, o ar quente escapou rápido de seus pulmões, atravessando seus lábios em uma bufada impaciente.

Abriu os olhos, encarando o escuro não tão profundo em que se encontrava. A luz do sol passava com dificuldade pelas frestas das persianas, lavando o quarto com uma penumbra simpática que a convidava a tentar continuar ali, os pés vestidos em meias enrolados na borda da coberta de lã. Fechou os olhos uma vez mais, um sorriso cálido nos lábios rosa pastel, tentando retornar ao mundo de inconsciência em que mergulhamos durante o sono, mas, uma vez mais, o celular apitou, dando-lhe um tapa na cara quando estava para saltar do abismo.

Respirando profundamente, ela empurrou as cobertas com carinho para longe, e rastejou para fora da cama, caminhando com passos pouco apressados até o celular. Agachou-se, desconectando este no carregador, e caminhou de volta para a cama, enquanto abria-o para ler a mensagem. Quando se sentou na cama, e estreitou os olhos para conseguir ler o que as letras pretas no fundo branco diziam uma fúria desigual surgiu nos olhos castanhos emoldurados por olheiras.

-Propaganda... - ela murmurou em um sibilo venenoso - Quem manda uma maldita propaganda na manhã do dia dos namorados?

Ela fechou o celular, irritada, vendo a hora exposta no visor externo. 13h27. Esta bem, não era manhã, mas ainda assim, era sábado de dia dos namorados. Quem acorda em um sábado antes das 14 horas?

Carla até pensou em voltar a se deitar, mas sabia que não adiantaria nada. Já havia acordado, e nada, naquele instante, seria capaz de fazê-la se deitar e realmente dormir novamente. Jogou os cabelos ainda úmidos do banho que havia tomado antes de dormir para trás, tomando coragem para se levantar, colocar um casaco por cima da blusa de mangas compridas que havia usado para dormir, calçar os pés naqueles chinelos de avós para andar em casa durante os dias frios.

Quando saiu do quarto notou que havia sido a última pessoa para acordar, seu pai e seu irmão estavam na sala, assistindo alguma coisa na televisão. Sua mãe estava terminando de colocar a mesa, mas não para o almoço, e sim para o café da manhã. Ela, assim como a filha, estava de pijama.

-Custa colocar um chinelo? - ela exclamou quando o irmão de Carla entrou na cozinha, os pés só em meias e uma regata no peito. -Bom dia, querida.

-Tá mais para “boa tarde”, não acha não? - Rodrigo tinha um sorriso maldoso no rosto, o qual Carla ignorou deliberadamente.

-Ignore ele, Carla, seu irmão acordou há dez minutos.

Rodrigo entortou a boca, olhando irritado para a mãe, que retribuiu com um sorrisinho enervante. Quando o pai se sentou do outro lado da mesa que Carla, sua mãe havia acabado de colocar sua caneca com leite e achocolatado no microondas. Durante o desjejum eles falaram sobre coisas inúteis, e às vezes havia o mais puro silêncio, cortado por bocejos remanescentes. Enquanto a vizinha estava preparando um frango assado com farofa eles estava terminando de comer um pedaço de bolo industrializados, bisnaguinhas e torrada.

A tarde passou de uma maneira monótona, mas confortável. Rodrigo e o pai ficaram na sala assistindo futebol, corrida, cricket, o que quer que fosse. Carla e a mãe se sentaram no quarto e ficaram ali até à meia noite, assistindo a última temporada de um seriado que ambas adoravam. Houveram pausas para o almoço fora de hora, e alguma outra refeição, e, claro, para que Carla fizesse download do próximo episódio. Nesse pequeno espaço de tempo ela corria até a caixa de entrada de seu e-mail, encontrando-a sempre normal, sem nada novo e, a cada vez que verificava o fato, sua boca se entortava um pouco.

Não havia falado com ninguém sobre o mail que estava esperando, e preferiu manter como estava. Se distraia com a série, chorando com ela, rindo com ela, abraçando a mãe enquanto seu pai e seu irmão vibravam com o que quer que fosse na sala.

O último episódio foi doído, sofredor e devagar. Houve perdas, conquistas, mortes e uma dúvida sem resposta. E elas ainda precisariam esperar meio ano para que houvesse a continuação da trama. Quando terminaram eram três horas da manhã, e elas riram quando perceberam o fato. Se despediram, desejando boa noite e bons sonhos. Os dois homens da casa, ou melhor, o garoto e o hoem da casa jea estavam dormindo, e agora as duas mulheres, a senhora e a senhorita, estavam seguindo os mesmos passos.

No silêncio da casa durante a madrugada, ela o fez mais uma vez.

Rapidamente, como quem tira um curativo, ela abriu a caixa de e-mail. A caixa de entrada não apresentava mensagem algum nova. E aquilo fez com que seus olhos se estreitassem, um pouco furiosos.

Com o mouse ela clicou em “Nova mensagem”, digitou um e-mail que sabia de memória, e no assunto colocou “Duas semanas depois”

“Você sabe que perdeu a oportunidade perfeita, não sabe? E você também sabe que era você quem devia estar enviando este mail, não eu.”

Sem pensar duas vezes, ela enviou.

Apagou a luz do teto e se enfiou embaixo das três camadas de tecido grosso, abraçando o travesseiro ortopédico e macio que abraçava sua cabeça todas as noites. Em poucos minutos sua mente saltou do consciente para aquele reino impalpável e esfumaçado de sonhos.






Espero que tenham gostado de Carla, uma jovem adolescente que adora seriados, histórias em quadrinho, whisky e doce de leite. Adoraria saber o que acham da atitude dela. Não sei se a história vai ter continuação, mas pelo menos houve um começo. Comentem antes de sair, e até a próxima!



Nínive Leikis

4 Comments:

  1. tatii lacorte said...
    senti um leve dejá vu pela Carla, é alguém que eu conheça? HAHAHAH

    como sempre, tá ótimo, amiga.
    :)
    Jéssica Neri said...
    Gostei da Carla, essa atitude dela lembra um pouco as minhas...
    e nem sempre tive o final feliz, espero que a Carla tenha rs!
    Anônimo said...
    nha
    eu prefiro historias mais inventadas, imaginação and stuff...
    e tambem, nao fiquei sabendo de absolutamente nada sobre ela e o menino, nada.
    Camila Loricchio said...
    "olhos castanhos emoldurados por olheiras."
    HUM, nossa, essa Carla me lembra alguém...estranho...
    HAHA
    Se não postar a continuação pelo menos me conta ela...x3

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